quarta-feira, 4 de março de 2009

Mutilações psicológicas

Há dias o programa "Você na Tv" levou ao público diversos casos sobre mães que matam filhos. Estiveram presentes os dr. Barra da Costa e Quintino Aires. Os habituais apresentadores estavam munidos de paus e pedras na voz, levando a plateia a seguir a mesma via. Barra da Costa, que nos tem habituado a elevada qualidade, defendeu e argumentou quais as possíveis causas que podem estar na origem destes crimes. Quintino Aires deu o seu toque no âmbito da psicologia, relatando as suas percepções de casos clínicos seus similares. Havia quem defendesse a obrigatoriedade de se proceder à laqueação das trompas destas mulheres. Também assim defendeu o dr. Rui Abrunhosa Gonçalves, em declarações ao jornal Diário de Noticias de dia 27 de Fevereiro.

Tal não se pode conceber, num Estado de direito. É certo que as crianças não têm culpa, nem pediram para nascer e muito menos para lhes ser retirada a vida pela pessoa que os devia proteger, cuidar e amar. Contudo não se pode mutilar pessoas, nem mediante ou conforme a gravidade dos seus crimes. Trata-se de um direito à integridade física...o mesmo direito que as crianças também tinham..é uma contradição, mas não se pode pagar olho por olho dente por dente, como noutros tempos.

Em certos países, distantes de um mundo civilizado, as pessoas são mutiladas ou lapidadas até à morte como punição pelos seus crimes. Uma mulher adultera num país árabe é violada pelos habitantes e chefes de tribos, e depois apedrejada até morrer. Um homem a ser condenado, é enforcado. Aos ladrões são-lhes cortadas as mãos, ficando assim impedidos de se regenerarem e um dia trabalharem em vez de roubar, tornando-se inválidos e um estorvo para toda a gente.

Não se pode punir uma pessoa para sempre, pelos seus actos, por mais cruéis que sejam, nem psicológica nem fisicamente. Não se pode cortar pés a quem exerce bullying, nem mãos a ladrões, nem outras coisas a pedófilos.. Porque o problema não reside nos órgãos decepados, mas sim na sua mente. A mente é que necessita de ser tratada. Porque uma má mãe com as trompas laqueadas vai continuar a ser má mãe. Mas se tiver tratamento poderá mudar o seu interior. E depois será tarde porque não se poderá reverter o processo de laqueação. Tal como não se podem devolver braços, pernas e outras coisas amputadas.

Teríamos de estudar se as pessoas tivessem condições de vida iguais aos outros que se fazem conduzir por motoristas, cometeriam ou não os mesmos crimes. Teríamos de dar como provado que uma pessoa deve ser punida para todo sempre, usando um letreiro do que fez para toda a vida, e dar-se a pessoa como irrecuperável. Assim seriamos um país de mutilados e inválidos a viver à custa de um Estado mau pagador ou transformados à força em sem-abrigo, uns mutilados de umas coisas outros de outras.

Ninguém é perfeito nem ninguém normal e saudável comete crimes destes. Se os crimes são bárbaros das duas uma: ou a pessoa é doente mental, ou se não o é, algo a fez agir desse modo. Por isso há que conhecer a história de vida da pessoa para saber como chegou até hoje e ao que cometeu. E isto não é defender os coitadinhos dos criminosos com histórias tristes de infância e dramas familiares duvidosos ou reais; mas distinguir quem é de má índole por natureza e quem agiu devido a um qualquer factor.

Seguramente nenhuma destas mulheres se vangloria de ter morto um filho. E ainda que tenham cometido um acto horrendo, não podem ser escurraçadas para uma ilha longe dos «civilizados.»

Sem comentários: