quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Amor perdido

Corpo jovem que se arrasta nas ruas sem brilhar
Coração que bate velho de tanto chorar

Que bate devagar como que vai sufocar

Que bate acelerado como que vai matar


Sol que a pouco e pouco saiu da nuvem

Sonhando para além da margem


E que hoje se volta a esconder

Esmorecido por voltar a escurecer


Triste ira que queima a saudade

Amor profundo magoado de ruindade


Lembranças de ontem, passados distantes

Lembranças de anos que parecem instantes


Dor do adeus anunciado

Por tanto egoísmo não renunciado


Valor perdido dignidade recuperada

Amor oferecido felicidade rejeitada


Pureza maltratada e insustentável

Num vicio inquebrável


Coração rejeitado cansado de sofrer

Anos passados como se nunca fosse morrer


Um dia chegará o peso da balança

Pesará o vazio da soberba pujança

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Morte dos Corações

A 28 de Setembro de 2009, um advogado foi baleado com dois tiros na cabeça, no seu escritório, pelo marido de uma cliente que estava a patrocinar numa acção de divórcio. O causidico ainda foi transportado aos Hospitais da Universidade de Coimbra, com vida, onde permaneceu em estado de coma até falecer, nesse mesmo dia.
É de lamentar a morte deste profissional. É de lamentar a morte em qualquer circunstância, seja ela natural ou não, seja ela cometida sobre que pessoa for. Por muito que por vezes não gostemos de alguém, a morte - nossa ou de outrem - nunca é solução para os problemas existentes.

Ao que parece, a morte resultou do ódio, da raiva, do desespero, da vingança, sabe-se lá por quais motivos. Contudo nunca existem motivos ou razões que desculpem tal acto. Quem acabou por pagar a falta de amor, de tolerância e de compreensão entre o casal, foi o advogado de uma das partes, que simplesmente teria sido contratado para resolver a questão do divórcio.

Todos serão culpados menos (em princípio) o advogado envolvido e que acabou por ter o destino traçado.

Na maioria dos casos, quando o coração aperta e não sabe entender nem aceitar o seu fim, nem se fazer compreender, reage magoado, humilhado, desesperado, revoltado e despeitado; e quem se lhe atravessa à frente, arca com toda a dor que o vem despedaçando.

Certamente que o assassino estará arrependido, pois o seu alvo seria outro, esse outro com quem o seu coração está em conflito.

Hoje em dia, os casais não sabem ser amigos nem tão pouco lutar para o mesmo lado. É cada um por si, ou melhor, um a agir por egoísmo, enquanto outro se esforça por remar pelos dois. Quando tudo se tenta em nome do amor, e no fim, se vê e sente que nada resultou nem lhe foi dado valor algum, a dor consegue corroer até à mais pequena célula de nós. Porque a dignidade tem o nosso nome, tem a nossa alma, e se a dignidade é ofendida somos nós que o somos bem cá dentro na nossa alma. E quando a alma grita de dor, tudo se torna possível, mesmo que nada desculpe a morte.

Poucos são os tolerantes, os que não acabam por «dá cá aquela palha», os que vivem a engolir desgostos e humilhações e ainda assim continuam a dar-se por inteiro, mesmo a quem não merece. Razão tem quem disse que o amor é cego, porque tudo vale a pena para quem ama, mesmo quando para a outra parte nada vale tanto a pena como algo que não somos nós.

Poucos são os que abdicam e se dedicam ao outro, estabelecendo o outro como prioridade. No entanto o anular-se a si próprio é cegueira por completo, que retira toda a dignidade só por si. Há que amar o outro, mas não acima de nós. De modo que quando não somos a escolha de alguém, devemos escolher-nos a nós próprios e aprender a gostar de nós, sem nos anularmos e rastejarmos por quem não nos ama. Porque isso não é amor. É egoísmo de quem se guia por interesses e não se importa de magoar a quem meramente diz, gostar.

domingo, 6 de setembro de 2009

Velha Página

Velha Página

Chove. Que mágoa lá fora!
Que mágoa! Embruscam-se os ares
Sobre este rio que chora
Velhos e eternos pesares.

E sinto o que a terra sente
E a tristeza que diviso,
Eu, de teus olhos ausente,
Ausente de teu sorriso...

As asas loucas abrindo,
Meus versos, num longo anseio,
Morrerão, sem que, sorrindo,
Possa acolhê-los teu seio!
Ah! quem mandou que fizesses
Minh'alma da tua escrava,
E ouvisses as minhas preces,
Chorando como eu chorava?

Por que é que um dia me ouviste,
Tão pálida e alvoroçada,
E, como quem ama, triste,
Como quem ama, calada?

Tu tens um nome celeste...
Quem é do céu é sensível!
Por que é que me não disseste
Toda a verdade terrível?

Por que, fugindo impiedosa,
Desertas o nosso ninho?
- Era tão bela esta rosa!...
Já me tardava este espinho!

Fora melhor, porventura,
Ficar no antigo degredo
Que conhecer a ventura
Para perdê-la tão cedo!

Por que me ouviste, enxugando
O pranto das minhas faces?
Viste que eu vinha chorando...
Antes assim me deixasses!

Antes! Menor me seria
O sofrimento, querida!
Antes! a mão que alivia
A dor, e cura a ferida,

Não deve depois, tranqüila,
Vendo sufocada a mágoa,
Encher de sangue a pupila
Que já vira cheia de água...

Mas junto a mim que te falta?
Que glória maior te chama?
Não sei de glória mais alta
Do que a glória de quem ama!

Talvez te chame a riqueza...
Despreza-a, beija-me, e fica!
Verás que assim, com certeza,
Não há quem seja mais rica!

Como é que quebras os laços
Com que prendi o universo,
Entre os nossos quatro braços,
Na jaula azul do meu verso?

Como hei de eu, de hoje em diante,
Viver, depois que partires?
Como queres tu que eu cante
No dia em que não me ouvires?

Tem pena de mim! tem pena
De alma tão fraca! Como há de
Minh'alma, que é tão pequena,

Poder com tanta saudade?!

Olavo Bilac, in "Poesias"

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Lawyers


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Advogados

Era uma vez um padre, já velhinho, no leito da morte, que resolveu despedir-se dos seus amigos e familiares.

Assim começou por chamar os paroquianos e deu-lhes uma palavra de fé, coragem e ânimo, agradecendo pela ajuda e dedicação à paróquia, pedindo-lhes que rezassem por ele, e não chorassem, porque ia para junto do Pai.

Depois, chamou os seus familiares chorosos, pedindo-lhes que não chorassem nem ficassem tristes, que seguissem unidos em família e confortando-os que do céu iria cuidar de todos eles, e iria estar junto do Pai.

Chamou o seu médico amigo, e agradeceu-lhe por toda a atenção relativamente a procedimentos médicos, medicamentos e tratamentos, e que não ficasse triste, uma vez que nada mais podia fazer e que iria cumprir assim a vontade de Deus.

Chamou ainda o seu amigo notário, que tanto o ajudou a tratar de heranças de família, pedindo-lhe também que não ficasse triste pela sua partida.

No fim, pediu para chamar os seus dois advogados, que logo acorreram junto do padre.

E disse-lhes: «meus amigos, obrigado por tudo, mas chamei-vos aqui hoje porque sempre quis morrer como Jesus Cristo.»

Espantados, perguntaram os advogados: Como Jesus Cristo??? Mas que significa isso?

Responde o padre: «No meio de dois ladrões...»

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Testamento Político


«Deus não pôs os ceptros nas mãos dos príncipes para que descansem, senão para trabalharem no bom governo dos seus reinos.»




D. Luís da Cunha, célebre diplomata do reinado de D. João V.

Lingua de Advogado



«Enquanto eu tiver a espada ao lado não assinarei semelhante decreto: quero que se possa cortar a língua a um advogado que se sirva dela contra o Governo».

Napoleão, aquando do Decreto Lei de 14 de Dezembro de 1810 que restabelecia o Quadro dos Advogados e a Ordem Forense.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Nero

Tenho de confessar, não sei se sou fã de Nero ou de Peter Ustinov que interpretou a figura do Imperador Nero no filme Quo Vadis!
Já uma vez o disse a um italiano, e quase tive de fugir!
Também não é que pretenda seguir as ideias de Nero quanto aos seus «passatempos» ou que pense em incendiar o meu querido Laranjeiro ou o concelho de Almada...se bem, que talvez até fizesse falta algo do género em alguns pontos...mas que Nero foi uma figura marcante do Império Romano, isso ninguém o pode contradizer.


Nero nasceu em Âncio, a 15 de Dezembro de 37 d.C. com o nome de Lúcio Domicio Aenobarbo. Era filho de Gneu Domicio Enobarbo e Agripina. Esta era descendente da família imperial Júlio-Claudiana, sendo filha de Agripina Major e Germânico e bisneta de César Augusto. Após a morte do marido de Agripina, esta começou a pensar em como poderia elevar o seu filho ao mais alto nível; tendo para tal, seduzido o seu tio Cláudio, que era o Imperador. Após a sedução, os planos continuaram, tendo conseguido convencer o Imperador a adoptar Lúcio como seu filho, e Lúcio a casar com Otávia, filha do Imperador.

Agripina queria que o seu filho fosse Imperador...

É assim que misteriosamente em 54 d.C. o Imperador Cláudio morre envenenado... Contudo, este tinha um filho, Britânico, que seria o sucessor...mas que aparece morto no ano seguinte... Agripina tinha finalmente o caminho livre para levar ao trono o seu filho Lúcio, que recebe assim o nome de Nero Claudius Caeser Augustus Germanicus ao ser proclamado Imperador, sem oposição.

Contudo, Nero tinha herdado a maldade e perversidade de sua mãe Agripina, que morre em 59 às ordens do seu próprio filho Nero após algumas tentativas falhadas. Foram elas:
- Construção de um aposento para Agripina, cujo tecto caisse quando esta dormisse;
- Como o plano falhou, Nero mandou chamar a sua mãe que estava em Roma, para ir ao seu encontro, tratando de arranjar como meio de transporte uma embarcação, cujo fim seria naufragar; contudo este foi-se afundando tão devagarinho que Agripina se atirou ao mar nadando em busca da sua salvação. Ao chegar a terra, quando uma das suas escravas foi morta pelo exército de «resgate», fugiu por outra margem.
- Após estas tentativas falhadas, Nero decidiu denunciar a própria mãe ao Senado, por conspiração; e não satisfeito, enviou um destacamento da guarda pretoriana para a matar. Desta vez, Agripina já não pôde fugir, mas ao ser apunhalada pelos guardas, pediu que a esfaqueassem no ventre, uma vez que tinha dado à luz tal criatura monstruosa.

No ano de 62 d.C. é a vez de Otávia, esposa de Nero, morrer às ordens deste. Imediatamente Nero casa com Popeia (que era sua amante) da qual teve uma filha em 63 d.C., Claudia, que vem a falecer. Em 65 d.C. é a vez de Popeia falecer, com um pontapé no ventre, dado pelo próprio Nero, quando esta estava grávida. Devido aos remorsos de Nero, em vez de cremada conforme a tradição romana, Popeia foi embalsamada e colocado no mausoléu da família.

Diz-se ainda que mais tarde, Nero se casou publicamente com um escravo, eunuco, mandado castrado por ordem de Nero...

Mas a «desgraça» de Nero não acaba por aqui!
Enquanto Nero esteve sob a orientação de sua mãe Agripina, do seu preceptor e filósofo Séneca e do seu prefeito pretoriano Burrus, tudo parecia seguir mais ou menos controlado, dentro dos esquemas destes, que claro, nem sempre seriam os mais aconselhados. Contudo é com a influência do prefeito pretoriano Ofónio Tigelino, que Nero dá largas aos seus mais terríveis e maléficos planos!

Nero que já gostava de cometer alguns excessos e loucuras - com os seus famosos banquetes, festas, jogos de arena, teatros e músicas - ao seu influenciado por Tigelino, leva a cabo o seu derradeiro sonho de construir uma Roma à sua imagem e honra; para tal a actual Roma teria de desaparecer, e nada melhor para o fazer, do que provocar um grande incêndio delimitado a certas áreas. Assim, poderia reconstruir a cidade como bem quisesse, bem como um grandioso palácio em sua glória, de nome Casa Dourada! Conta-se que enquanto Roma ardia, Nero tocava lira e cantava desde a varanda do seu Palácio...deslumbrando com tamanhas labaredas e com o concretizar do seu sonho!

Contudo, o fogo alastra-se fortemente, e para controlar o povo alarmado, é preciso encontrar um bode expiatório que fosse considerado culpado de tamanha maldade. As novas vitimas de Nero, foram os Cristãos, que na altura se reuniam secretamente para adorar «outro» Deus que não Nero! Estava encontrado o «grupo» a quem atribuir o crime!

Após este episódio, Nero é declarado como «O anti-Cristo» pelos Cristãos, uma vez que foi durante o seu reinado que se iniciaram as perseguições a estes, e que São Pedro e São Paulo foram assassinados. O primeiro foi crucificado à semelhança de Jesus Cristo, mas de cabeça para baixo; e o segundo foi decapitado.

Após tais desaires de Nero, a sua imagem começou a provocar algum descontentamento nos populares e militares, que resultaram em diversas revoltas, dando origem a mais um incontável número de vitimas. Com o decorrer da situação, o governador Galba, decidiu rumar com o seu exército ao encontro de Nero, tendo este sido declarado nefas e persona non grata, e Galba como novo Imperador.

Assim, sem qualquer apoio da população e dos seus guardas, e uma vez que alguns destes se renderam e juntaram a Galba, e até de alguns dos seus amigos terem sido mortos ou se suicidado, Nero foi obrigado a fugir.

Ao ser perseguido pela guarda pretoriana, para não ser julgado na praça pública e morrer completamente desonrado às mãos de Galba, acabou por se suicidar, ajudado por uma sua ex-escrava, de nome Cláudia Acte, que ele próprio tinha expulso, mas que se tinha sempre mantido sempre fiel. Estávamos no ano de 68 d.C.

Nero foi o último imperador da dinastia Júlio-Claudiana.

Actualmente existem historiadores que duvidam da atribuição da culpa deste incêndio a Nero, versão que tem tido pouca aceitação.. Vá-se lá saber porquê...

Peter Ustinov, que interpretou Nero no filme Quo Vadis, ganhou um Óscar pelo seu magnifico desempenho!

Fica aqui um link, com um dos trechos memoráveis...ohhhh force divine!


P.S. - Na peregrinação que fiz no ano de 2000 a Roma, para o encontro mundial da juventude com o Papa João Paulo II; chegada a um local digno de Nero, cantei este trecho inesquecível! Só me faltou a lira...e claro, quem me ouviu, também teve de se contentar com este pequeno trecho, devido à minha garganta...
Parece contraditório com a minha religião, mas como referi, não sigo todos os passos de Nero...

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Supostamente morto e enterrado

Está instalada a confusão no cemitério de Valadares. Os protagonistas são de etnia cigana...desde logo é garantido o circo!

Frede Cardoso Marques da Rosa é o suposto falecido enterrado no dito cemitério, com uma pomposa lápide com o seu nome e com direito a fotografia!

Contudo, antes de supostamente morto, o de cujus era procurado pela justiça, carregando às costas uma série de crimes de burla.

Supostamente morto, os processos seriam extintos.


No entanto, continuam a chegar à barra do tribunal mais processos onde figura o nome do suposto falecido, recebendo a PSP mandados de detenção para o trazer à justiça!


Feita a investigação apurou-se através de uma certidão de óbito, fornecida pelo coveiro do cemitério, que o cadáver que jaz em nome de Frede, é o de seu irmão Vítor Manuel Cardoso. Facto também comprovado junto do Hospital, Conservatória do Registo Civil e Junta de Freguesia.


Quem não aprova tal situação é a família do supostamente morto e enterrado Frede que defende a todo o custo que este está efectivamente morto, e que nem sequer tem um irmão! Quem o diz é a mãe e irmã que se deslocam ao cemitério para chorar o supostamente enterrado Frede.


Gostava de ver a cara da família se o corpo fosse exumado - e feitos os devidos exames através de ficha médica, ou se esta não existir...talvez através de ficha criminal (!!!) - e aparecesse Vítor em vez de Frede....ainda deveriam ter lata para dizer que andam a chorar um desconhecido e que afinal o tão bondoso e inocente Frede está enterrado por engano em qualquer outro lugar!


Vão lá procurá-lo noutra campa...ehehehe

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Torneira Alegre

Ainda que pretendesse que este blog fosse maioritariamente dedicado aos acontecimentos da Justiça e da Nação, não posso deixar de comentar um divertido episódio, ocorrido em Itália.

O insólito aconteceu durante a 84ª edição da Festa da Uva de Marino, em que é tradição fazer-se a abertura da Festa de um modo muito peculiar: faz-se jorrar vinho branco - em vez de água - da fonte dei Quattro Mori! Um espectáculo pelo qual toda a população procede a uma contagem decrescente para a abertura da Fonte, esperando ver a chamada «transformação da água em vinho», de copo em riste!

No entanto, devido a um erro de alavancas - ou a uma brincadeira - a Fonte deitou mesmo água... Contudo o vinho não se ficou nos barris de 3 mil litros, preparados para o efeito, mas foi parar às torneiras dos 40 mil habitantes da cidade!!

Esperemos que quem tenha notado em casa o sabor da «nova» água, tenha enchido uns bons garrafões!

Pena que em Portugal continue a sair água das torneiras e de má qualidade...

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A Lei da Violação

Uma nova lei aprovada no Afeganistão está a causar enorme polémica entre toda a comunidade, especialmente entre as mulheres. E não é para menos, é que esta lei permite ao marido exigir ter relações sexuais com a esposa de 4 em 4 dias, sem esta poder recusar.

Estamos claramente perante nova recusa do direito à dignidade e liberdade, promovendo-se a submissão, repressão e violação familiar.

Concordo que homem e mulher demonstrem o amor que sentem um pelo outro, mas nunca através da força e da obrigação. Para além do mais, em inúmeros países, e o Afeganistão não é excepção, os casamentos são "arranjados" e "forçados" e não realizados de livre vontade por amor e amizade, e já agora, dentro de uma idade razoável...

Certamente que quem criou esta lei absurda só pode ser um homem, daqueles donos da lei e da justiça, que rezam 5 vezes ao dia virados para Meca muito cumpridores dos seus deveres religiosos, mas totalmente desprovidos de dignidade, inteligência, princípios e valores humanos.

Gostaria já agora, de saber qual será a pena prevista para a mulher que recuse cumprir a lei! Será a lapidação? O açoite público? A mutilação de algum órgão? O soterramento em vida? Ou muito me engano, ou ainda deverá ser a violação em grupo...

sábado, 4 de abril de 2009

O Rapaz Do Pijama Às Riscas

Hoje à tarde comecei a ler um livro que já não consegui deixar até o terminar ainda nesta tarde! Trata-se do livro de John Boyne, «O rapaz do pijama às riscas». A obra conta a história de um menino alemão de 9 anos que vê a sua vida ser completamente alterada quando o seu pai - cuja profissão ele não sabe ao certo qual é - é destacado para um trabalho noutro lugar e toda a família o tem de acompanhar.
Este menino, Bruno, deixa assim a cidade onde vivia - Berlim - para ir viver num local donde só vê da janela do seu quarto, um grande campo em frente com muitas pessoas vestidas de pijama às riscas e braçadeira amarela...que estão sempre acompanhadas por homens como o seu pai, com um lindo uniforme e uma braçadeira vermelha, com um desenho a preto e branco...
Contudo a vida de Bruno estaria prestes a mudar ainda mais, quando decide explorar aquele campo - do lado de fora do arame farpado - e encontra um menino da sua idade e nascido no mesmo dia e mês, de nome Shmuel. Os dois meninos passam a encontrar-se diariamente - cada um de seu lado do arame - até que um dia e após muita insistência da família que queria regressar a Berlim, o pai de Bruno decide que a família iria mesmo regressar a Berlim, ficando somente ele onde estavam...na Polónia!
Assim Bruno quer despedir-se do seu amigo! Contudo este conta-lhe que o seu pai tinha desaparecido, e Bruno diz-lhe que o ajudará a encontrá-lo; mas para isso teria de passar para o lado de Shmuel! Mas Bruno não poderia andar vestido com as suas roupas, assim e para não levantar suspeitas, a ideia é Shmuel arranjar um pijama igual para Bruno poder vestir e assim poderem procurar o pai de Shmuel.
E em vésperas da partida para Berlim, Bruno aventura-se com Shmuel, sem nunca perceber bem que faziam ali aquelas pessoas, que tipo de "cidade ou campo" era aquela e porque todas tinham um ar tão esfomeado, doente e infeliz. Também não percebe porque os amigos de seu pai são tão maus para aquelas pessoas que viviam com aquele pijama imundo todos os dias...
Bruno e Shmuel tentam procurar o pai deste último, mas sem sucesso.
No entanto, chovia bastante e Bruno vai ficando cada vez mais tempo, até que se vê rodeado por um grupo de pessoas em pijama a serem levados pelos guardas amigos de seu pai, para um dos barracões... Bruno ficou contente, pensando que estava a ser protegido da chuva, e agarrando a mão do seu novo amigo, entrou com ele...para uma câmara de gás.

Bruno nunca mais voltou.

Mais tarde foram iniciadas buscas à sua procura, até que o seu pai encontra as suas roupas do lado de fora do campo, numa zona em que o arame farpado podia ser levantado na exacta medida em que só uma criança poderia passar.

A família de Bruno acaba por voltar a Berlim na esperança que o menino tivesse tentado regressar a casa, pelos seus próprios meios, mas em vão, e ainda que o seu pai tivesse percebido qual fora o destino do filho. Mais tarde, o seu pai é levado para um campo pelos soviéticos, mas aí já nada lhe importa, uma vez que perdeu o seu filho devido à sua própria crueldade..

Peço desculpa por já ter relatado o final do livro, mas quem o quiser ler ficará certamente tão maravilhosamente desolado quanto eu! No entanto, é uma interessante obra, que relata uma história irreal dentro de uma época infelizmente bem verdadeira.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Finanças Duvidosas

Há dias, ao pesquisar o novo site das finanças - site que deixa qualquer contribuinte feliz e contente e a pensar em coisas e gente boa - decidi enviar um email a solicitar ajuda sobre algumas duvidas.



O email está disponível no site para isso mesmo, tirar duvidas.


Expus algumas questões sobre a minha nova situação tributária face à minha carreira profissional; mais outras questões sobre outros assuntos da minha família, tendo o cuidado de não revelar nomes nem dados de ninguém... Apenas expus os casos e pedi ajuda para saber como proceder.


Para minha alegria - se é que se pode chamar de alegria, receber um contacto das finanças - recebi finalmente a tão desejada resposta face às minhas duvidas. Abri o email, qual não é o meu espanto ao ler a resposta dada por tal excelentíssima entidade:






«Relativamente ao conteúdo do seu mail, informo V.ª Ex.ª que deverá formular novo pedido com uma descrição completa e precisa dos factos, cujo enquadramento jurídico-fiscal pretende, acompanhado do número de identificação fiscal (NIF), conforme impõem os artigos 59º da LGT e 9.º e 12.º do Dec.-Lei n.º 463/79, de 30 de Novembro e ainda conforme orientação veiculada pelo Oficio Circulado 20083, de 12.05.2003, que pode consultar no site oficial da DGCI, no endereço www.dgci.gov.pt
Caso não seja o interessado directo na questão, deve ainda proceder à identificação dos seus representados, conforme determina o n.º 3 do artigo 68.º da Lei Geral Tributária (LGT).
Será arquivado sem mais formalidades o seu mail, por se considerar existir desinteresse e falta de colaboração da sua parte, em caso de não enviar os elementos solicitados e legalmente necessários, no prazo peremptório de 10 dias.
Mais informo que poderá obter esclarecimentos verbais sobre qualquer questão fiscal junto dos serviços de finanças, serviços de apoio presencial ao contribuinte, loja do cidadão ou call center da DGCI ligando pelo número 707 206 707.»

Claro que da minha parte as finanças nunca mais obtiveram qualquer contacto! E visto que já se passaram os 10 dias, devo estar quase a ir presa por desinteresse e falta de colaboração!! Se isto é que é a ajuda às duvidas.....Livraaaaaaaaaaaa!


terça-feira, 24 de março de 2009

Sem Rei nem Roque

Tomei hoje conhecimento através de um estudo publicado no Jornal de Noticias, que na África do Sul, muitas mulheres lésbicas são sujeitas à chamada "violação correctiva", no intuito se serem punidas pelos seus actos pecaminosos e desviantes e reeducadas na sua orientação sexual.
Ainda que não seja apologista da homossexualidade, nem concordar com o casamento e muito menos adopção por parte de homossexuais; não posso concordar com tal atitude "correccionista".
Trata-se única e exclusivamente de um acto de violência, um acto degradante não só para a vitima mas também para o agressor.
É referido neste estudo que existem por ano 500 mil violações na África do Sul, sendo grande parte destas violações, as famosas correcções de más tendências; e que apenas 1 em cada 25 homens acusados de violação correctiva, é efectivamente condenado.
Faz lembrar as violações populares ainda hoje praticadas como sentença e punição pela autoria de crime de adultério, por parte de tribos e clãs de povos primitivos. Também em casos de violação, é comum neste tipo de aldeias, se punir uma mulher da família do agressor a sofrer o mesmo crime de violação! O mesmo acontece quando existem jovens de tribos diferentes a apaixonar-se e sendo descobertos, a mulher é punida com uma violação por parte da aldeia em peso, por ser considerada impura e prostituta!
Assim são as leis do homem, em locais sem Rei nem Roque, onde se pune toda a gente menos os agressores.
O que não consigo compreender de todo, para além das atrocidades que se cometem como supostas punições e correcções de comportamento, é como se pode ter erecção para se cometerem crimes e crueldades contra outra pessoa!
Qual será a punição "correctiva" para homens homossexuais...?

terça-feira, 17 de março de 2009

Triumph Acclaim HLS

Mais uma vez o meu infeliz Rover foi parar à oficina. A bateria descarrega e a temperatura chega ao máximo em poucos minutos de trânsito. Também dizem que os Rover's têm a cabeça fraca...é um reparo interessante a fazer a um carro...(e em algumas pessoas também...).

Enquanto o Rover foi ver se encontra dias melhores, fiquei com o carro do meu avô (que se fosse vivo teria feito neste ano 99 anos!). É absolutamente adorável conduzir o carro do meu avô, não só porque o carro é antigo e se trata de um clássico, mas principalmente porque era do meu avô de quem tenho tantas saudades! De modo que conduzir o carro dele é uma honra e grande motivo de orgulho e alegria! Imagino os tempos em que ele o conduzia e eu ia sentada atrás, das viagens à casa dos meus avós em Freixeda de Vilar e imagino que agora é o meu avô que se deixa levar por mim, nem que seja dentro do meu coração e pensamento!
E por onde passo só me apetece buzinar, principalmente se vejo alguém de mais idade, que se possa recordar deste carro, ou até quem sabe, tenha tido um! Na altura foi um autêntico sucesso, não só em Portugal, mas como também no Reino Unido, donde é originário.

Trata-se de um belo clássico, que viu fabricadas 133,626 unidades de 1981 a 1984. O meu é verde-água, 1335 de cilindrada e com vidros eléctricos.
O sucessor do Triumph Acclaim foi o Rover série 200 (tenho um de série 214 GSI).
O meu....Triumph Acclaim HLS.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Hoje foi a leitura da sentença do meu 1.º Julgamento!

Chegada ao Tribunal de Almada, encontrei-me com o arguido que já esperava a chamada. Também lá se encontrava o ofendido, que não tinha de estar presente, mas que fez questão de ir ouvir a sentença..
Contudo, estava tanta gente para outros processos, que eu e o arguido fomos chamados ao gabinete da Dra. Juíza. Lá fomos nós, e eu com o coração nas mãos sem saber que esperar...

Afinal, era para conhecer a sentença! Tudo porque a juíza com tantos processos, não tinha tido tempo para escrever a sentença e muito menos para a ir ler na sala de audiências. Assim tomariamos conhecimento oralmente do que tinha decidido, quais os factos dados como provados e não provados.

Resultado:


- ABSOLVIÇÃO -


Após o conhecimento da sentença, foi-nos dito que podíamos ir embora e recolher cópia da sentença noutro dia. Seguiram-se os devidos cumprimentos, e lá saímos do gabinete vitoriosos e assim continuámos corredor fora até à porta de saída do Tribunal!

Quem ficou à espera no corredor, que fossemos chamados para a sala de audiência e se proceder à leitura da sentença...foi o ofendido, que a esta hora ainda lá deve estar... eheheheheh

Caso para dizer que se fez JUSTIÇA!

quarta-feira, 4 de março de 2009

Crescimento em Vigia

Saiu um artigo no jornal Diário de Noticias, de 27 de Fevereiro deste ano, sobre pais que contratam detectives para saber vigiar os seus filhos.

O intuito dizem os pais é saber o que se passa na vida dos filhos, desde conhecer as companhias com que os filhos se dão, ao que fazem na ausência dos pais e às conversas que têm. Tudo pode ser registado mediante uma câmara de filmar e microfone oculto, até jovens "infiltrados" que tentam estabelecer amizade com o jovem a vigiar para tentar descobrir a sua vida. Até no quarto dos jovens adolescentes os pais "podem" entrar através destes métodos, ou seja, nem no seu pequeno mundo - o quarto - o jovem pode estar à vontade.

Ora, isto não me parece a melhor solução. Talvez uma boa educação desde cedo, e muito diálogo e proximidade entre pais e filhos resulte melhor do que desconfianças e controlos excessivos. Os jovens necessitam de aprender, crescer e errar por si próprios. Não se pode vigiar uma pessoa 24h por dia nem tal é saudável para nenhum dos lados. Este tipo de controlo é ilegal, porque se trata de registar conversas e imagens que não foram consentidas, ainda que o "dono do consentimento" seja menor. Contentes ficam os detectives pelo aumento da procura deste tipo de "trabalho" que lucram fortunas devido à falta de confiança e diálogo entre pais e filhos.

A descoberta de tal vigilância apenas cria revolta e sentimento de incompreensão nos jovens, que nem em casa podem ser eles próprios nem se sentir livres. Os pais falam de protecção, os filhos de opressão e controlo excessivo.

Está certo que a mentalidade dos jovens de hoje e a vida em si não tem nada a ver com outras gerações passadas, mas estes métodos são ilegais e deveriam ser exclusivamente usados para a procura de pessoas desaparecidas e não para se vigiar pessoas que estão connosco. Claro que há inumeros perigos para além do alcool e drogas, há amigos virtuais que afinal são predadores, há companhias que levam por maus caminhos, há comportamentos de risco; mas a solução não passa por uma câmara de vigilância. Passa sim pelo alertar de perigos, por regras e disciplina desde a mais tenra idade. Mais educação e menos mimalhada. Mais diálogo e menos ipods e computadores.

Uns aproveitam-se dos pais e lucram com isso, outros querem conhecer os filhos através de máquinas em vez de falarem com eles.

Agente Provocador

Arábia Saudita. País desenvolvido e rico do continente asiático, mas que contudo ainda com muitos obstáculos às mulheres. O caso não é assim tão importante comparado com outros países e penas degradantes aplicados aos condenados, mas ainda assim merece uma pequena critica. O «problema» tem chegado aos órgãos de comunicação. E qual é o problema? É que o contacto entre homens e mulheres é proibido em público; contudo os funcionários das lojas são homens. Assim se uma mulher quiser ir a uma loja, tem obrigatoriamente de contactar publicamente com um homem, e pior, quando a loja é de roupa interior feminina. Assim a mulher tem de escolher a sua roupa interior, sob os olhares dos homens, não podendo sequer experimentar para saber se o n.º serve. Não pode também fazer perguntas sobre cor, tamanho, modelo, feitio, porque tudo isso é contacto público com um homem e ainda por cima sobre um assunto intimo, tabu e privado nestes países.

Para nós, mulheres ocidentais, nada há de mais banal do que ir a uma loja e conversar com as funcionárias sobre a peça que queremos, experimentar a ver se fica bem, e por fim, levar o artigo desejado sem olhares reprovadores.

Agora falo-vos de agentes: Um agente provocador é aquele que provoca uma situação para apanhar em flagrante uma pessoa e dá-la como culpada do seu «crime». Este agente é proibido em Portugal. Pelo contrário, é permitido o agente infiltrado, que é aquele que se infiltra num grupo já ele criminoso e que tenta descobrir informações sobre crimes.

Para estas mulheres é como se houvesse um agente provocador a cada esquina. Porque se têm de ir a uma loja, têm de estar perante homens, pois os funcionários das lojas são todos homens. Mas depois não podem ter contacto público com homens! Muito menos falar sobre assuntos tabu como escolher uma peça de vestuário intimo! Nem podem ficar sujeitas a olhar reprovador consoante o artigo que gostariam de escolher (não vá incorrerem em algum tipo estranho de crime); mas as peças encontram-se nas lojas para venda...
Ou seja, para não se ser apanhado por um Estado «provocador» o melhor mesmo é a reclusão ou a revolução.

Mutilações psicológicas

Há dias o programa "Você na Tv" levou ao público diversos casos sobre mães que matam filhos. Estiveram presentes os dr. Barra da Costa e Quintino Aires. Os habituais apresentadores estavam munidos de paus e pedras na voz, levando a plateia a seguir a mesma via. Barra da Costa, que nos tem habituado a elevada qualidade, defendeu e argumentou quais as possíveis causas que podem estar na origem destes crimes. Quintino Aires deu o seu toque no âmbito da psicologia, relatando as suas percepções de casos clínicos seus similares. Havia quem defendesse a obrigatoriedade de se proceder à laqueação das trompas destas mulheres. Também assim defendeu o dr. Rui Abrunhosa Gonçalves, em declarações ao jornal Diário de Noticias de dia 27 de Fevereiro.

Tal não se pode conceber, num Estado de direito. É certo que as crianças não têm culpa, nem pediram para nascer e muito menos para lhes ser retirada a vida pela pessoa que os devia proteger, cuidar e amar. Contudo não se pode mutilar pessoas, nem mediante ou conforme a gravidade dos seus crimes. Trata-se de um direito à integridade física...o mesmo direito que as crianças também tinham..é uma contradição, mas não se pode pagar olho por olho dente por dente, como noutros tempos.

Em certos países, distantes de um mundo civilizado, as pessoas são mutiladas ou lapidadas até à morte como punição pelos seus crimes. Uma mulher adultera num país árabe é violada pelos habitantes e chefes de tribos, e depois apedrejada até morrer. Um homem a ser condenado, é enforcado. Aos ladrões são-lhes cortadas as mãos, ficando assim impedidos de se regenerarem e um dia trabalharem em vez de roubar, tornando-se inválidos e um estorvo para toda a gente.

Não se pode punir uma pessoa para sempre, pelos seus actos, por mais cruéis que sejam, nem psicológica nem fisicamente. Não se pode cortar pés a quem exerce bullying, nem mãos a ladrões, nem outras coisas a pedófilos.. Porque o problema não reside nos órgãos decepados, mas sim na sua mente. A mente é que necessita de ser tratada. Porque uma má mãe com as trompas laqueadas vai continuar a ser má mãe. Mas se tiver tratamento poderá mudar o seu interior. E depois será tarde porque não se poderá reverter o processo de laqueação. Tal como não se podem devolver braços, pernas e outras coisas amputadas.

Teríamos de estudar se as pessoas tivessem condições de vida iguais aos outros que se fazem conduzir por motoristas, cometeriam ou não os mesmos crimes. Teríamos de dar como provado que uma pessoa deve ser punida para todo sempre, usando um letreiro do que fez para toda a vida, e dar-se a pessoa como irrecuperável. Assim seriamos um país de mutilados e inválidos a viver à custa de um Estado mau pagador ou transformados à força em sem-abrigo, uns mutilados de umas coisas outros de outras.

Ninguém é perfeito nem ninguém normal e saudável comete crimes destes. Se os crimes são bárbaros das duas uma: ou a pessoa é doente mental, ou se não o é, algo a fez agir desse modo. Por isso há que conhecer a história de vida da pessoa para saber como chegou até hoje e ao que cometeu. E isto não é defender os coitadinhos dos criminosos com histórias tristes de infância e dramas familiares duvidosos ou reais; mas distinguir quem é de má índole por natureza e quem agiu devido a um qualquer factor.

Seguramente nenhuma destas mulheres se vangloria de ter morto um filho. E ainda que tenham cometido um acto horrendo, não podem ser escurraçadas para uma ilha longe dos «civilizados.»

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Alegações Finais

Ontem deu-se a 2.ª sessão do meu 1.º julgamento.
Foi ouvida a testemunha faltosa - e última a ser ouvida - da qual ainda consegui algumas contradições para juntar às contradições das testemunhas anteriores e às minhas alegações finais. Após a testemunha ter sido ouvida; foi permitido ao meu constituinte apresentar à juiza um desenho do "local do crime", de modo a se entender a posição dos veiculos e de todos os intervenientes. Nisto, o ofendido - que esteve também presente na sala a ouvir tudo quanto se passava - interrompeu a juiza e quis também ele mostrar um desenho elaborado por si naquele momento! Ora, como o sr. ofendido se dirigiu ao tribunal na qualidade de testemunha arrolado pelo MP, e como já tinha sido ouvido nessa qualidade, a sua intervenção já terminara e nada mais poderia apresentar. Foi isto precisamente que a juiza lhe disse, mas o sr. ofendido continuou a dizer que queria apresentar um documento e que na secretaria lhe tinham dito que ele o podia fazer a todo o tempo na audiência! Contudo, o pormenor de se ser testemunha é muito relevante... Tal não foi a arrogância e má criação, que o sr. quase foi posto fora da sala! Assim, sentou-se a resmungar, preperando-se para ouvir o demais... A procuradora nas suas doutas alegações finais pediu a condenação do arguido em pena de multa, e a seguir falei eu!
Pois não me bastei com um peço justiça envergonhado! Apresentei os meus argumentos, ordenadamente, expliquei os requisitos necessários para o preenchimento do crime de ameaças, baseada no C.P. Comentário Conimbricense, expliquei as diferenças do actual C.P. com o anterior de 1886 e com a doutrina alemã, e porque entendia que os mesmos requisitos não se tinham verificado; relatei alto e em bom som as contradições das testemunhas, e o jeito de pompa e circunstância levados a tribunal numa atitude de fazer perder tempo com picardias e vinganças por parte do ofendido; que com tanta inquietude e tão amedrontado, ainda teve capacidade para perseguir o arguido durante cerca de 1h até um armazém e arriscar-se a ficar sozinho no dito local com o arguido e seus colegas! Fui irónica q.b. (espero mesmo só q.b.) e espero não levar nenhum processo!
Enquanto alegava, o ofendido não parava quieto no banco. Ora se mexia, ora batia o pé, ora bufava por todo o lado e respirava fundo, ora tossia! O engraçado é que quanto mais o homem demonstrava o seu descontentamento, mais garra e gozo me dava! Uma cena digna de se ver!
A leitura de sentença está marcada para dia 5 de Março. Veremos qual a decisão da juiza.. Mas que ontem o dia me correu bem e o sr. ofendido passou mal, ai isso passou!
Fiquei feliz e ainda estou! Principalmente porque chegou um dia tão esperado, o dia em que tivesse de alegar perante um tribunal! Só não me pude passear pelo "palco" tal como nos filmes, mas que me senti um autêntico Al Pacino ou Dustin Hoffman, senti! E se gostei!
Fiquei feliz porque pensei que o medo me dominasse e não fosse capaz do que me imaginava fazer em miuda, mas consegui! E ainda estou muito feliz!
Que me desculpem os meus amigos, mas ainda vou falar do meu 1.º julgamento durante muito tempo!
Quando for proferida a sentença, relatarei o caso em concreto.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Os Expostos

Cronologia da Pena de Morte em Portugal

· 1852: Abolida para crimes políticos (art. 16.º do Acto Adicional à Carta Constitucional de 5 de Julho, sancionado por D. Maria II).

· 1867: Abolida para crimes civis, excepto por traição durante a guerra. (Lei 1 Julho 1867). A proposta partiu do ministro da Justiça Augusto César Barjona de Freitas, sendo submetida à discussão na Câmara dos Deputados. Transitou depois à Câmara dos Pares, onde foi aprovada. Mas a pena de morte continuava no Código de Justiça Militar. Em 1874, quando o soldado de infantaria nº 2, António Coelho, assassinou o alferes Palma e Brito, levantou-se grande discussão sobre a pena a aplicar.

· 1911: Abolição para todos os crimes, incluindo os militares.

· 1916: Readmitida a pena de morte para traição em tempo de guerra.

· 1976: Abolição total.

Actualmente, a pena de morte é um acto proibido e ilegal segundo o art. 24.º alínea 2 da CRP.
*

A última execução conhecida em território português, por motivos de delito civil, ocorreu em Abril de 1846, em Lagos. Quanto a crimes militares, consta que a última execução terá ocorrido em França, cujo condenado seria um soldado do Corpo Expedicionário Português, durante a 1.ª Guerra Mundial.

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Quanto às mulheres, Luísa de Jesus foi a última executada, em Coimbra a 1 de Julho de 1772. Tinha 22 anos e foi condenada à morte por ter assassinado 33 expostos - bebés abandonados -que ia buscar à famosa "roda" de Coimbra, ora usando o seu nome, ora um falso, de modo a receber o enxoval da criança e 600 réis que eram dados por cada criança.

A roda dos expostos consistia num mecanismo utilizado para abandonar (expor na linguagem da época) recem-nascidos que ficavam ao cuidado de instituições de caridade ou de quem os quisesse acolher.

O mecanismo, em forma de tambor giratório, era embutido numa parede, e construído de forma a evitar a pessoa que abandonava a criança, fosse visível por quem a recebia.

Assim os bebés abandonados ganhavam o nome de “expostos”.


Imagem:
Roda dos expostos (Recolhimento de Santa Maria Madalena, Ilha de Santa Maria (Açores).

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Ira


Mulher, personificando o pecado da ira, rasga suas vestes com o rosto transfigurado por forte emoção - Giotto (1267-1337) - Capela Scovegni, Pádua, Itália.
Ira, tenebroso sentimento, e um dos sete pecados mortais. Ira sempre sobre o mesmo assunto. Ira sempre contra a mesma pessoa, ou resto de gente, como eu defino. Ira que guardada de inúmeros acontecimentos, acumulando um explosão de sentimentos que são despoletados ocasionalmente quando o "tema" é trazido à conversa, ou à visão. Por vezes nem é preciso falar, basta ver e tudo regressa outra vez, qual sentimento adormecido sempre à espreita de acordar e se revelar.

Sentimento guardado a sete chaves que num ápice solta todas as fechaduras e amarras e tudo derruba. Sentimento transponível a todo o instante, capaz de passar pelas barreiras mais meticulosas, altas e espessas.

Num instante, anos de trabalho interior é praticamente perdido, sendo necessário reconstruir novamente toda a estrutura, muros e barreiras. Impossível de controlar, impossível de reter durante longos períodos como se fosse invisível e insensível.

É um lutar sozinho, uma batalha a travar interna e exteriormente. Trabalho árduo de um só, fácil de destruir pelos demais que nem reconhecem o esforço, nem respeitam a dor, mágoa e rancor que provocam com as suas atitudes egoístas.
Egoísmo puro que magoa demais. Egoísmo cego que não vê nem quer ver o transtorno que provoca, pelo simples egoísmo. Egoísmo que só arrebata rancor, e torna o monstro cada vez mais difícil de adormecer. E embora vá adormecer novamente, tenho certeza que em breve, estará de volta. E volta num rugido cada dia mais sonoro.


Ira, é o que hoje sinto.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Oratória

De momento estou a ler um livro de Vitorino Prata Castelo Branco, «O advogado e a defesa oral». Nesta fase do meu estágio, considero importantíssimo adquirir todo e qualquer conhecimento acerca do comportamento em tribunal, não só perante juízes e colegas, mas também perante a plateia que ocasionalmente se senta a assistir a um julgamento. Esta excelente obra, contem inúmeros conselhos sobre a postura do advogado, sua dicção e tom de voz e movimentação do corpo; indicando ainda várias estratégias para captar a atenção dos espectadores e dar mais ênfase ao que se está a dizer. Para além de ensinar a "história da oratória" na Grécia e Roma antiga, ensina ainda a elaborar todo um discurso eloquente de modo a preparar o advogado para quando for a "hora da verdade" nas alegações orais.

Atrevo-me a citar um pequeno trecho (pág.60):

"O rosto do advogado, na oratória, deve ser o espelho do que «Io fala, expressando alegria, tristeza, cólera, ternura, enfim todos os sentimentos que suas palavras procuram exprimir. Os olhos devem brilhar se fala de temas felizes e amortecer se lembra de do adversário; será este recurso tão eficiente como o daquele velho advogado que ouvia o promotor público com seu charuto aceso, equilibrando a cinza, atitude que roubava as atenções gerais, ficando todos à espera da queda da parte queimada, ou daquele outro que, distraidamente, no melhor da argumentação do acusador, deixava cair um livro da tribuna, destruindo a oratória contrária.
Evaristo de Morais costumava escrever os pontos principais da acusação em retângulos de papel e, chegando a sua vez de falar, lia-os em voz alta, dissecava-os, destruindo-os em seguida com a sua argumentação fabulosa, quando então rasgava os papéis em pedacinhos, fazendo cair os mesmos em chuva sobre a mesa, numa demonstração objetiva de que nada daquilo mais restava."
É precisamente com este tipo de atitude e comportamento, que sempre imaginei num bom advogado; actuando como se a sala de audiências de um palco se tratasse! Sem exageros claro nem representações teatrais, que só serviriam para desprestigiar e ridicularizar o advogado.
É uma leitura que aconselho a todos os advogados e juízes! Principalmente aos mais intimidáveis e intimidantes!

*
Antes deste livro, estive a ler uma das obras do Dr. Juiz Hélder Fráguas, «Se a justiça falasse»! A obra está repleta de histórias verídicas ocorridas em tribunal, casos empolgantes e autênticas revira voltas em plena audiência! O Dr. Fráguas vai relatando não só diversos casos seus, como também de outros colegas. Uns casos mais emocionantes outros mais revoltantes; mas sempre com boas decisões a final, após uma excelente visão e ponderação das motivações de todos os intervenientes.

É uma obra com a qual se aprende a ter noção de como um caso pode revirar totalmente em audiência, principalmente pelo testemunho das testemunhas, e apanhar completamente desprevenido, o advogado mais preparado. Demonstra ainda como uma sentença poderá mudar nos últimos instantes, e nada está garantido desde o inicio de um processo. De certo modo, o relato das situações, ainda que assustador para um estagiário, também serve como calmante, na medida em que nos adverte dos perigos a fugir e a não cometer! E claro, a ter noção que o inesperado pode suceder a qualquer momento a qualquer um de nós! Por isso mesmo, convém preparar bem um julgamento, e estar a par de toda e qualquer mudança no processo, e delinear uma estratégia a seguir, como "plano B" ou "C" ou "D" inclusive!

Quanto aos casos de outros colegas, relatados nesta obra, destaco o das bananas! Não só pela comédia do caso em si, como também e principalmente pelo terror do causidico, que num primeiro julgamento, se vê numa autêntica batalha campal entre testemunha e juiz e a ver o seu processo tão bem delineado transformar-se em dois, em poucos segundos! Um autêntico horror para qualquer estagiário!

Uma empolgante obra que aconselho a todos quantos se interessem pela justiça e queiram conhecer o seu mundo, tão próprio!
Já agora, a próxima sessão do meu julgamento será 2.ª feira, dia 16, a qual aguardo ansiosamente, e estando a preparar a alteração às minhas alegações orais, uma vez que consegui algumas contradições das testemunhas, e ainda falta ouvir uma! E claro, vou alterar as alegações também devido às recentes obras lidas, que muito me ajudaram!
Bem haja aos seus escritores!
Entretanto também já acabei o livro de Vitorino... É tempo de encontrar outra boa obra para me entreter!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

1.º Julgamento

Já vai longa a noite, e já poderei dizer que foi ontem o dia do meu 1.º julgamento! Uma total mistura de sentimentos, ansiedade, alegria pelo tão desejado momento, e claro, algum receio à mistura. Contudo não posso deixar de mencionar que começo a sentir os mesmos sentimentos de quem se defende, perante tamanha arrogância, gabarolice, matreirice e esquema montado da contra-parte. Ainda assim consegui algumas contradições que espero serem valiosas na hora da decisão. As alegações finais ficaram para uma próxima sessão, a 16 de Fevereiro, juntamente com o depoimento de uma testemunha faltosa. Depois será esperar pela leitura de sentença, que muito honestamente, sendo de condenação, vou sentir bem na pele a impotência, injustiça e indignação de tal convicção. Contudo, espero que a justiça esteja do meu lado. Quero aqui também deixar uma palavra de apreço ao meu ilustre patrono, que me disse não poder comparecer ao meu 1.º julgamento, mas que contudo se desdobrou entre os tribunais do Barreiro e Almada, para estar a meu lado em tal momento especial na minha vida.

Patrono e mestre: o meu mais profundo reconhecimento e gratidão pelo gesto não só de direcção de estágio, mas também pelo apoio e amizade!

Ao meu companheiro em especial, e a todos os meus amigos que me apoiaram, um grande abraço de reconhecimento pelo ânimo, alegria e bravura que me transmitiram, e que me permitiu não chegar a tremer a uma sala de audiências!

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Peço Justiça

Em véspera do meu 1.º julgamento como defensora oficiosa, de um caso sobre crime de ameaças, a ansiedade e nervoso miudinho vai aumentando à medida que as horas passam. É tempo de recordar os ideais de criança em que me imaginava num tribunal a protagonizar umas brilhantes alegações orais, capazes de emocionar toda a audiência e de mudar a vida do arguido, claro..injustamente acusado! Creio que essa minha faceta se deveu aos filmes norte-americanos que visionei (talvez em excesso para uma criança) e que me levaram a nunca sonhar com o querer ser actriz, cantora ou bailarina como a maioria das meninas (pelo menos na idade da infância). As alegações orais sempre me fascinaram desde tenra idade, principalmente porque nos filmes, o advogado se passeava perante os juízes, acusado e audiência como se estivesse num palco a representar, e ia fazendo os mais diversos sons imitando um disparo, ou o número de pancadas que um vitima tinha sofrido! Assim me perdia eu a imaginar-me no papel de um Dustin Hoffman, Al Pacino, ou outros cujo nome não me recordo de momento.
Desde cedo sempre vinquei bem que queria ser advogada, estar ligada aos tribunais, ou à policia. Amanhã vou ter por fim o tão esperado momento. Não será certamente como eu imaginei, nem poderei andar a passear no "palco", nem sei sequer se vou alegar amanhã ou noutro dia, pois há uma série de testemunhas a ouvir.

Contudo, o julgamento, as perguntas à contra parte e as alegações orais já estão preparadas. Claro que tudo poderá ser modificado, mediante o desenrolar do julgamento.

Sobra o medo...a ansiedade e a duvida de ser capaz ou de no final de contas ter seguido um sonho demasiado alto em que me considere totalmente incapaz.

Tento que o medo não apague o meu gosto pelo direito, pelo sonho de ser capaz de mudar alguma coisa no mundo, ainda que o meu mundo se restrinja ao Tribunal e não a todo um universo!

Medo de não corresponder ao esperado, de não compreender algo que me seja exigido, e medo sobretudo de um inocente ser declarado culpado pelo meu fraco desempenho.

Resta o acreditar que Deus não me deixará sozinha, e o querer honrar quem me ajudou a alcançar esta profissão (nem que seja quem pagou o curso!!)


É tempo de respirar fundo e dar tudo por tudo, ainda que numa defesa oficiosa. Porque toda a gente é pessoa e merecedora de defesa preocupada; e não de um acanhado ou irresponsável "Peço Justiça"!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Inocência perdida

Um menino de apenas 4 ano disparou contra um jovem de 18 anos.
O caso passou-se em Ohio, EUA, que já nos têm habituado a tantas histórias irreais, que mais uma já é normal e corriqueiro. O jovem estaria a tomar conta de várias crianças, quando por qualquer razão, o menino ficou zangado e afirmou ir ao quarto buscar uma arma. Ninguém acreditou. Contudo, não só foi buscar a arma, como disparou contra o jovem, ferindo-o num braço e parte do torso.

Mais tarde, veio a saber-se que a arma estava descarregada, tendo o menino sabido carregar a arma correctamente e manejá-la eficazmente, destravando-a.

O pai do menino, muito surpreendido pela atitude do filho, apenas referiu que usa a arma para caça mas que nunca ninguém ensinou o filho a lidar com armas, muito menos a carregá-las e usá-las. Referiu ainda tratar-se de um acidente, pois o seu menino não teria noção dos danos que poderia causar, e que certamente pensou tratar-se de uma arma de brincar.

No Ohio não há nenhuma lei que obrigue o afastamento de armas das crianças.


Surpreendida fiquei eu pelas declarações do pai do menino, suposta criança inocente e sem noção dos seus actos. Contudo, se o menino inocente sabe onde o pai guarda a arma, e que a mesma é usada para caça, e que os animais atingidos por ela são mortos; também deve saber que se a arma for usada contra uma pessoa, também trará o mesmo resultado. Certo é que o menino puro e inocente já viu como se carrega uma arma, como se maneja e como se retira a segurança; e ainda que ninguém o tenha ensinado, já o fizeram à sua frente, o que basta para uma criança aprender a fazê-lo, pela simples observação. Quem tem crianças sabe bem como elas são curiosas e observam tudo com muita atenção e tudo imitam, principalmente das pessoas que mais admiram. Agora ficar zangado, afirmar que vai buscar uma arma, ir efectivamente buscá-la, carregá-la e saber destravá-la...não lhe chamaria propriamente inocente, ainda que de tenra idade.

E se aos 4 anos já sabe disparar contra uma pessoa, imagino que proezas inocentes saberá fazer quando for adolescente... Os pais que se cuidem, ou um dia poderá ocorrer um crime inocente contra si próprios, porque o menino contrariado ficou zangado!