terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Oratória

De momento estou a ler um livro de Vitorino Prata Castelo Branco, «O advogado e a defesa oral». Nesta fase do meu estágio, considero importantíssimo adquirir todo e qualquer conhecimento acerca do comportamento em tribunal, não só perante juízes e colegas, mas também perante a plateia que ocasionalmente se senta a assistir a um julgamento. Esta excelente obra, contem inúmeros conselhos sobre a postura do advogado, sua dicção e tom de voz e movimentação do corpo; indicando ainda várias estratégias para captar a atenção dos espectadores e dar mais ênfase ao que se está a dizer. Para além de ensinar a "história da oratória" na Grécia e Roma antiga, ensina ainda a elaborar todo um discurso eloquente de modo a preparar o advogado para quando for a "hora da verdade" nas alegações orais.

Atrevo-me a citar um pequeno trecho (pág.60):

"O rosto do advogado, na oratória, deve ser o espelho do que «Io fala, expressando alegria, tristeza, cólera, ternura, enfim todos os sentimentos que suas palavras procuram exprimir. Os olhos devem brilhar se fala de temas felizes e amortecer se lembra de do adversário; será este recurso tão eficiente como o daquele velho advogado que ouvia o promotor público com seu charuto aceso, equilibrando a cinza, atitude que roubava as atenções gerais, ficando todos à espera da queda da parte queimada, ou daquele outro que, distraidamente, no melhor da argumentação do acusador, deixava cair um livro da tribuna, destruindo a oratória contrária.
Evaristo de Morais costumava escrever os pontos principais da acusação em retângulos de papel e, chegando a sua vez de falar, lia-os em voz alta, dissecava-os, destruindo-os em seguida com a sua argumentação fabulosa, quando então rasgava os papéis em pedacinhos, fazendo cair os mesmos em chuva sobre a mesa, numa demonstração objetiva de que nada daquilo mais restava."
É precisamente com este tipo de atitude e comportamento, que sempre imaginei num bom advogado; actuando como se a sala de audiências de um palco se tratasse! Sem exageros claro nem representações teatrais, que só serviriam para desprestigiar e ridicularizar o advogado.
É uma leitura que aconselho a todos os advogados e juízes! Principalmente aos mais intimidáveis e intimidantes!

*
Antes deste livro, estive a ler uma das obras do Dr. Juiz Hélder Fráguas, «Se a justiça falasse»! A obra está repleta de histórias verídicas ocorridas em tribunal, casos empolgantes e autênticas revira voltas em plena audiência! O Dr. Fráguas vai relatando não só diversos casos seus, como também de outros colegas. Uns casos mais emocionantes outros mais revoltantes; mas sempre com boas decisões a final, após uma excelente visão e ponderação das motivações de todos os intervenientes.

É uma obra com a qual se aprende a ter noção de como um caso pode revirar totalmente em audiência, principalmente pelo testemunho das testemunhas, e apanhar completamente desprevenido, o advogado mais preparado. Demonstra ainda como uma sentença poderá mudar nos últimos instantes, e nada está garantido desde o inicio de um processo. De certo modo, o relato das situações, ainda que assustador para um estagiário, também serve como calmante, na medida em que nos adverte dos perigos a fugir e a não cometer! E claro, a ter noção que o inesperado pode suceder a qualquer momento a qualquer um de nós! Por isso mesmo, convém preparar bem um julgamento, e estar a par de toda e qualquer mudança no processo, e delinear uma estratégia a seguir, como "plano B" ou "C" ou "D" inclusive!

Quanto aos casos de outros colegas, relatados nesta obra, destaco o das bananas! Não só pela comédia do caso em si, como também e principalmente pelo terror do causidico, que num primeiro julgamento, se vê numa autêntica batalha campal entre testemunha e juiz e a ver o seu processo tão bem delineado transformar-se em dois, em poucos segundos! Um autêntico horror para qualquer estagiário!

Uma empolgante obra que aconselho a todos quantos se interessem pela justiça e queiram conhecer o seu mundo, tão próprio!
Já agora, a próxima sessão do meu julgamento será 2.ª feira, dia 16, a qual aguardo ansiosamente, e estando a preparar a alteração às minhas alegações orais, uma vez que consegui algumas contradições das testemunhas, e ainda falta ouvir uma! E claro, vou alterar as alegações também devido às recentes obras lidas, que muito me ajudaram!
Bem haja aos seus escritores!
Entretanto também já acabei o livro de Vitorino... É tempo de encontrar outra boa obra para me entreter!

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