quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Cabo Pá & Salazar

Ontem à tarde, deparei-me com a tristeza do mais recente programa da famosa Júlia Pinheiro, intitulado "As tardes da Júlia". O tema desse dia era sobre apelidos raros, e à mistura o caso do Cabo Costa e das 3 jovens assassinadas de Santa Comba Dão.
Júlia ora se entristecia ora ria às gargalhadas, conforme naquele minuto o tema fosse de desgraça ou de riso.

Sobre o tema de Santa Comba Dão, tinha como convidado um escritor de nome Manuel da Silva Ramos (perdoem-me a ignorância, mas nunca ouvi falar de tal personagem, senhor de 59 anos, com cabelo grisalho pelos ombros escorrido à Nuno Gomes), que escreveu um romance de nome «A ponte submersa», baseado no caso do triplo homicídio perpetrado pelo Cabo Costa. Diz o autor que no livro deixa duras criticas à polícia e à Igreja. A apresentação do romance deu-se no passado dia 21 de Julho, em Santa Comba Dão, em cuja apresentação estiveram presentes familiares das vitimas e o sub-director da PJ Almeida Rodrigues. Afirma o autor que o romance foi dedicado «a todas as jovens que perderam os seus sonhos na flor da idade», dirigindo ainda palavras de consolo aos familiares das vitimas presentes na apresentação do livro: «Estou solidário com a vossa profunda dor, mas agora podem sentir-se um pouco mais reconfortados, porque as vossas queridas renasceram».

No romance, o Cabo Costa vê o seu nome alterado para Cabo Pá (isto porque na ideia do autor, "pá" simboliza estar a enterrar algo, o que seria apropriado ao assunto em questão), e as vitimas ganham nomes fictícios. Para o escritor, tudo é permitido, referindo sobre o caso que "eu tratei-o à minha maneira, tenho toda a liberdade de o fazer". O autor também se auto-proclamou de humanista e que o seu livro é uma vitória! Referiu ainda que a vontade de escrever sobre o tema, surgiu aquando de uma paragem em Santa Comba Dão para almoçar, e tomou conhecimento do caso; sendo que se seguiu um período de investigação local, conversas com habitantes e leituras de jornais sobre o caso, tendo o dito romance sido escrito em 6 meses. Estes 6 meses bastaram ao autor para "ver a psicologia do criminoso, das vítimas e a reacção de uma cidade". Manuel da Silva Ramos chega mesmo a afirmar no seu livro que a GNR «é uma instituição arcaica, prepotente e privilegiada, que manda para a reforma gente muito nova», considerando que, «se mandasse para a reforma gente com 65 anos, como a maior parte das pessoas vão, este cabo não seria um conquistador e não andaria a matar jovens». «A GNR era um Grande e Nacional Regabofe onde não se fazia a ponta de um corno, ganhava-se bem, tinham-se muitas vantagens cá por fora, vinha-se novo para a reforma - tinha-se tempo até para MA… Não! A GNR era o Grande e Nacional Rigor». Quanto à Igreja, esta é criticada pelo facto de muitos crimes poderem ser evitados, se os mesmos fossem revelados às autoridades pelos padres após a confissão dos criminosos. No romance, o Cabo Pá, teria revelado os seus crimes a um padre que lhe respondeu «Vai em paz, Deus já te perdoou e eu também», e «Estás perdoado, meu filho».

Em 1.º lugar considero repugnante como se aproveita semelhante crime para se ganhar dinheiro, à custa do sofrimento dos outros, com romancezecos de algibeira e tamanha gabarolice do autor. Em 2.º lugar não será certamente pelo livreco do autor que estas famílias se sentirão mais consoladas pela morte e perda dos seus entes queridos, e que as "queridas renasceram"!! Em 3.º lugar, os parentes das vitimas deveriam levar este senhor à barra do tribunal, por estar a aproveitar-se da situação, misturando dor e factos reais com ficção, onde tudo é permitido como afirma o autor. Nem compreendo como alguém se pode arrogar no direito de tal. Nem tão pouco considero 6 meses o suficiente para se proceder a uma investigação pessoal e séria sobre o caso, e à publicação de um livro, em que se afere a psicologia do criminoso, das vitimas e a reacção da cidade; a menos claro, como é o caso, do livro não passar de uma fantochada para ganhar dinheiro.

E mais, conversando Júlia Pinheiro e o autor, em modos de tertúlia sobre o crime, referiu a ilustre Júlia Pinheiro que nunca foi a Santa Comba Dão, nem tem sequer curiosidade de conhecer porque é a terra de Salazar!

Mais inculta e anti-patriota não podia deixar de ser tal dama, nem mostrar maior falta de consideração a tão belo Concelho do distrito de Viseu, sua história, património, rios e suas gentes. Também não deve saber que Salazar nasceu no Vimieiro (freguesia de Santa Comba Dão, a sul do rio Dão); nem deve conhecer verdadeiramente a vida e pessoa de Salazar. Mas ainda que não goste de Salazar, Santa Comba Dão não é sinónimo de Salazar. A atalho de foice, respondeu o autor que fugiu de Portugal devido ao fascismo da época. Também não deveria este senhor, conhecer Franco, nem Mussolini, nem Hitler para saber o que era fascismo a sério. Referiu ainda o autor que o Cabo Costa tinha em casa fotografias de Salazar e do Papa João Paulo II... como se o importante fossem as pessoas em causa para o cometimento do crime. Importante seria ter referido que o Cabo Costa é uma pessoa perversa, que se escondia atrás de uma máscara de ordem, lei, e fé. E que os feitos de cada um destes dois grandes Homens nada têm a ver com o feito perverso do Cabo Pá!

Aqui fica um conselho: já que Santa Comba Dão é tão repugnante a estas pessoas, ao menos que visitem o Concelho através do site http://www.cm-santacombadao.pt/ e aproveitem para se tornarem mais cultos, e deixarem-se de frases infelizes.

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