domingo, 19 de setembro de 2010

O Triunfo dos Porcos

Acabei de ler «O triunfo dos Porcos» de George Orwell, um excelente romance em forma de sátira à comunista União Soviética. Tudo começa quando os animais fartos de serem explorados pelo Homem desejam tomar as rédeas das suas próprias vidas idealizando uma vivência digna, justa e igualitária. Um velho porco idealiza uma Revolta na quinta onde viviam e assim se inicia um sonho concretizado mais tarde por todos os animais da quinta. No entanto, tamanha foi a ambição que rapidamente faz surgir um líder que após a vitória sobre o dono da quinta, estabelece um conjunto de regras - Mandamentos - a serem cumpridos. Só que o líder exacerbado pelo poder, acaba por destruir tudo aquilo que outrora tinha sido idealizado, alterando os Mandamentos conforme os seus próprios interesses, espezinhando os princípios que pretendera seguir e conseguindo levar todos a obedecer sem o questionarem, uma vez que ninguém se atrevia a contradizer o líder ou eram demasiado incultos para o fazer. Depressa a liberdade idealizada se transformou numa ditadura.
Com o passar do tempo, o líder vai afastando da comunidade os animais que lhe podem fazer frente e vai criando um autêntico exército de pupilos dispostos a morrer em seu nome. Deste modo, o líder vai sendo moldado pela corrupção, conspiração e pela própria ganância, tornando-se igual ou pior àqueles contra quem tinha lutado, já não se conseguindo distinguir os porcos dos homens. Assim foi destruído todo o ideal da Revolta e todo um sonho, de si inconcretizável neste mundo, ou pelo menos por uma «vara de porcos».

Obrigada sua ursa por me teres cedido tão brilhante livro! Bem disseste que ia gostar de uma história em que os animais falassem ;)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Ciganos d'Latão

Para além de se tratar de uma questão de dignidade, trata-se ainda de uma questão de humanidade. Nicholas Sarkozy, actual Presidente da França fez o que muitos não tiveram coragem para tentar sequer embora certamente o desejassem: a deportação dos ciganos da França aos seus países de origem. Vários outros países da Europa já se pronunciaram contra esta retirada, tendo o presidente francês ironizado com a desgraça alheia e sugerindo que quem o criticou acolhesse tais criaturas.
Realmente trata-se de um caso muito sério e por várias razões. Uma delas porque a maior parte deste clã não pretende trabalhar mas sim viver às custas de um qualquer Estado, dedicando-se a actividades menos licitas ou de mendicidade; depois porque não pretendem viver de maneira civilizada por mais que sejam criadas condições para tais, e ainda porque vão andando de país em país e quem tem de cuidar da sua situação é o último onde eles se refugiam.

Na verdade entendo que os seus países de origem é que devem cuidar dos seus nacionais e dar-lhes condições de vida, não sendo os outros Estados a terem de sustentar e arranjar solução para os problemas de vida que outros se desresponsabilizaram. Portugal também tem enfrentado o mesmo problema, recebendo clandestinos que mendigam nas nossas ruas e por quem ninguém se interessou, a começar pelo seu próprio país.

Neste momento já não poderá interessar a nacionalidade dos intervenientes, até porque as novas gerações já terão outra nacionalidade que não as dos seus pais; mas sim deverá interessar uma politica europeia que trate de conjuntamente dar resposta às necessidades humanas. E a já não ser possível arranjar uma «Alcatraz» para cada grupo e categoria que não queira viver segundo as regras do país que os acolhe, a solução terá mesmo de passar por um conjunto de esforços de todas as nações. Não só os países de origem têm a obrigação de cuidar dos seus e de serem capazes de dar resposta, como os países por onde tais criaturas vão deambulando tornam-se responsáveis, seja em termos de apoio social, ou em última instância, em termos criminais. O que não podemos fazer é atirá-los ao mar nem fingir que não existem.

Assim, quem não gostou nada foram os ciganos que disseram viver melhor em França...vá-se lá perceber por quê...onde tinham direito a uma mensalidade e a comida!

A discussão para a deportação teve diversas origens: nacionalidade, distúrbios, criminalidade, mendicidade, subsídios e apoios sociais, pensões, despesa pública, etc.

No entanto torna-se caricato a solução extrema ter partido de Sarkozy, cujo pai era Húngaro... Deste modo Sarkozy também não se pode gabar de ter origens puras francesas...uma vez que a levar a extremos a sua nova e recente politica também ele poderia ser deportado...para Bucareste!

Para uns existem os «ciganos d'ouro», para outros são todos de latão...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

House of Saddam

Passou na Tvi o filme «House of Saddam» que tive a oportunidade de ver. Claro que este filme não é originário do Iraque, e muito menos foi escrito ou pensado por iraquianos, mas sim por ingleses. Ao menos não foi produzido por americanos. Mesmo contendo muito do horror vivido por iraquianos e americanos, ainda assim não será seguramente fiel aos verdadeiros acontecimentos que marcaram a história e deram um novo rumo ao Iraque. Não sendo apologista de guerras, nem santas nem menos santas, e considerando toda e qualquer guerra bárbara e sanguinária, entendo que os países devem sim estar unidos de forma a se apoiarem nos mais elementares princípios humanos. Mas não apoio invasões em nome da reposição da liberdade, e muito menos em nome de uma qualquer nação que se considera superior às demais e pretende à lei da bala impor o seu modo de vida. Todas as culturas, povos e línguas devem ser respeitados, devendo-se sim tentar-se incutir o princípio da vida e não da morte, da tortura ou da mutilação; mas nunca pela força. Não temos de nos tornar aliados a quem nunca nos apoiou em coisa alguma, não temos de enviar homens para a morte em nome de decretos e leis promulgados por quem está confortavelmente sentado e refastelado. Também não se pode pretender tal como Saddam Hussein que «a lei é tudo o que eu escrever num papel».

No final do filme não são passadas imagens do enforcamento de Saddam Hussein, mas por imensos sites é possível encontrar vídeos e fotografias de Saddam Hussein morto, bem como dos seus filhos Uday e Qusay. Já todos sabemos que os filhos descobertos e foram mortos pelas tropas americanas numa troca de tiros por não se terem rendido, e já todos sabemos que Saddam Hussein foi julgado e condenado à forca. Os defensores de Saddam Hussein pretendiam que este fosse julgado por juízes de várias nacionalidades, enquanto outros pretendiam que enfrentasse um julgamento pelo próprio povo iraquiano. Como sabemos não houve cadeiras para quaisquer juízes de outros países, mas para o julgamento ter a direcção dos americanos houve bancadas que sobrassem.


Por mais monstruosos que estes homens pudessem ter sido, eram homens, que cresceram noutra época, que acreditavam nos seus próprios princípios, ou até falta deles, e mesmo que merecessem ser julgados e condenados, algo que defendo é a vida humana. Se são monstruosas as acções destes homens, monstruosas também são as imagens que alguém fez circular na Internet como os seus corpos mortos. Monstruoso é alguém regozijar-se pela morte de alguém e fazer de tal acontecimento um festim.


Também sabemos que decidiram derrubar as estátuas de Saddam Hussein, destruindo-as por completo. Para mim outra monstruosidade. Estas imagens e estátuas fizeram parte da história, e deveriam estar num museu. Também Auschwitz é hoje um museu, não foi derrubado porque faz parte da história, é hoje um local de visita, de conhecimento e de memória por todos os que lá pereceram às mãos de outros ditadores. Se pretendessem derrubar os campos de concentração, seria apagar a história e fingir que nada aconteceu. Não digo que se louvem os ditadores, mas somente que não se apague a história. Acredito que cada época e país dita os seus costumes, as suas práticas, as suas crenças às quais não se pode fugir e quem não compactuar com tal, será deixado para trás...acredito que somos muitas vezes o que é pretendido ou exigido por outros, acredito que por vezes nem a nossa opinião podemos seguir e fazer respeitar. Acredito que muitos dos homens próximos de lideres tinham de os seguir incondicionalmente e mesmo assim não estariam a salvo, mas que sozinhos não iriam cometer tais actos. Outros são assim por natureza e não se importam com os demais, somente com a sua própria - de - mente.


No entanto Saddam Hussein foi o Presidente do Iraque, foi certamente um ditador aos olhos de muita gente - houve outros bem piores,- mas foi um homem e como qualquer outro homem deveria ter sido tratado com humanidade, mesmo que ele não o soubesse fazer aos demais.
A publicação de imagens e fotos tanto dele como dos seus filhos são uma afronta à dignidade humana, uma afronta a qualquer mãe que vê os corpos de seus filhos despojados, a serem gozados e humilhados perante o mundo, como motivo para festejos e copos de champanhe.
Como se pode alguém alegrar com a morte, seja ela de quem for?




Para mim é tão somente uma afronta à dignidade, uma afronta à própria vida.