quarta-feira, 1 de setembro de 2010

House of Saddam

Passou na Tvi o filme «House of Saddam» que tive a oportunidade de ver. Claro que este filme não é originário do Iraque, e muito menos foi escrito ou pensado por iraquianos, mas sim por ingleses. Ao menos não foi produzido por americanos. Mesmo contendo muito do horror vivido por iraquianos e americanos, ainda assim não será seguramente fiel aos verdadeiros acontecimentos que marcaram a história e deram um novo rumo ao Iraque. Não sendo apologista de guerras, nem santas nem menos santas, e considerando toda e qualquer guerra bárbara e sanguinária, entendo que os países devem sim estar unidos de forma a se apoiarem nos mais elementares princípios humanos. Mas não apoio invasões em nome da reposição da liberdade, e muito menos em nome de uma qualquer nação que se considera superior às demais e pretende à lei da bala impor o seu modo de vida. Todas as culturas, povos e línguas devem ser respeitados, devendo-se sim tentar-se incutir o princípio da vida e não da morte, da tortura ou da mutilação; mas nunca pela força. Não temos de nos tornar aliados a quem nunca nos apoiou em coisa alguma, não temos de enviar homens para a morte em nome de decretos e leis promulgados por quem está confortavelmente sentado e refastelado. Também não se pode pretender tal como Saddam Hussein que «a lei é tudo o que eu escrever num papel».

No final do filme não são passadas imagens do enforcamento de Saddam Hussein, mas por imensos sites é possível encontrar vídeos e fotografias de Saddam Hussein morto, bem como dos seus filhos Uday e Qusay. Já todos sabemos que os filhos descobertos e foram mortos pelas tropas americanas numa troca de tiros por não se terem rendido, e já todos sabemos que Saddam Hussein foi julgado e condenado à forca. Os defensores de Saddam Hussein pretendiam que este fosse julgado por juízes de várias nacionalidades, enquanto outros pretendiam que enfrentasse um julgamento pelo próprio povo iraquiano. Como sabemos não houve cadeiras para quaisquer juízes de outros países, mas para o julgamento ter a direcção dos americanos houve bancadas que sobrassem.


Por mais monstruosos que estes homens pudessem ter sido, eram homens, que cresceram noutra época, que acreditavam nos seus próprios princípios, ou até falta deles, e mesmo que merecessem ser julgados e condenados, algo que defendo é a vida humana. Se são monstruosas as acções destes homens, monstruosas também são as imagens que alguém fez circular na Internet como os seus corpos mortos. Monstruoso é alguém regozijar-se pela morte de alguém e fazer de tal acontecimento um festim.


Também sabemos que decidiram derrubar as estátuas de Saddam Hussein, destruindo-as por completo. Para mim outra monstruosidade. Estas imagens e estátuas fizeram parte da história, e deveriam estar num museu. Também Auschwitz é hoje um museu, não foi derrubado porque faz parte da história, é hoje um local de visita, de conhecimento e de memória por todos os que lá pereceram às mãos de outros ditadores. Se pretendessem derrubar os campos de concentração, seria apagar a história e fingir que nada aconteceu. Não digo que se louvem os ditadores, mas somente que não se apague a história. Acredito que cada época e país dita os seus costumes, as suas práticas, as suas crenças às quais não se pode fugir e quem não compactuar com tal, será deixado para trás...acredito que somos muitas vezes o que é pretendido ou exigido por outros, acredito que por vezes nem a nossa opinião podemos seguir e fazer respeitar. Acredito que muitos dos homens próximos de lideres tinham de os seguir incondicionalmente e mesmo assim não estariam a salvo, mas que sozinhos não iriam cometer tais actos. Outros são assim por natureza e não se importam com os demais, somente com a sua própria - de - mente.


No entanto Saddam Hussein foi o Presidente do Iraque, foi certamente um ditador aos olhos de muita gente - houve outros bem piores,- mas foi um homem e como qualquer outro homem deveria ter sido tratado com humanidade, mesmo que ele não o soubesse fazer aos demais.
A publicação de imagens e fotos tanto dele como dos seus filhos são uma afronta à dignidade humana, uma afronta a qualquer mãe que vê os corpos de seus filhos despojados, a serem gozados e humilhados perante o mundo, como motivo para festejos e copos de champanhe.
Como se pode alguém alegrar com a morte, seja ela de quem for?




Para mim é tão somente uma afronta à dignidade, uma afronta à própria vida.

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